7 de out. de 2010

ritual

muro cinzento coberto de musgos. dia nublado garoa fria. em bando, pássaros brancos cortam o céu. por sobre o velho muro em fila, formigas negras carregam folhas. lentas, precisas, agourentas. sentinelas do portal talvez. lá dentro, implacável silêncio. a vala preparada à espera. olhos úmidos, abraços, mãos apertadas. velhos amigos que o tempo separou. em frente, em fila seguem as formigas. impossível parar. metáforas da vida talvez. uma a uma, lentamente assistem, sobre o muro frágil ao antigo ritual das despedidas. lá dentro agora soluços, prantos comedidos, preces, indagações, pesares. e o meu amigo dorme indiferente... ao frio, à garoa, aos pássaros negros. ao pranto, às preces e aos abraços. indiferente à dor e à vida - que já foi tão doída. seguem as formigas por sobre o muro. em breve anoitece. amanhã não estaremos mais aqui. por sobre o velho muro - uma a uma seguirão as formigas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário