2 de out. de 2010

Olhos de ir embora

O mundo - eu olho hoje com olhos de meu pai. Contemplativos, resignados, calmos - olhos de ir embora.

Atentos atônitos curiosos - úmidos e claros - cinzentos e embaçados - vermelhos ressecados - quase sempre brilhantes. translúcidos - olhos de ir embora.

Contemplo assim a vida - homens e mulheres. Arvores e pedras. Pássaros e flores. Meninos e cães. Nuvem chuva vento. A terra - com olhos de ir embora.

Fecho meus olhos e sigo vendo como meu pai: o tempo que passou. O tempo que virá. O tempo - com olhos de ir embora.

Penetro num castelo de portas iinfinitas. Abro uma a uma. Já não tenho medo - vejo com os olhos da alma. Eternos - olhos de ir embora.

O templo e as ruínas. Madeira apodrecida. Ferrugem e sucata. Moldura envelhecida. Cabelos brancos - retratos antigos. Objetos no lixo. A roupa velha- a casa vazia. Trapos. Ciscos - nada. Tudo - com olhos de ir embora.

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