29 de dez. de 2009

Casas antigas

Casas são como gente: nascem, vivem, envelhecem. E antes de morrer, contam histórias.

22 de dez. de 2009

Retrato

Meus vivos meus mortos - já não os distingo. E eles me olham com a habitual indiferença. Mais um porta retrato em preto e branco na prateleira da memória. E o pó nas molduras - sequer o vento sopra.

Pé de não sei que

Árvore do cerrado. Cresceu comigo. Rude e exótica - mas era minha. Eu fui embora - ela não quis. Ela não tinha pés - eu não tinha raiz.

Dois cavalos

Na parede branca do meu quarto, moram dois cavalos. Há anos que me olham com seus olhos mansos e opacos. Rédeas esticadas, empoeiradas , não os afetam. As folhas miúdas no alto relevo, não morrem.

Lembro das mão fortes do meu avô modelando o barro. Sinto o cheiro da argila, dos panos molhados, da oficina. Lembro dos arames, dos velhos cinzéis e das espátulas. Vejo claramente o esboço desenhado no papel canson.

Relincham de saudades os cavalos de terra da minha infância - me agarro às suas crinas e deixo que me levem ao sabor do vento.

Sombras

Sombras antigas do que fomos, dançam. Nos muros altos que se elevam - atrás de nossos passos.

Aleluia do sol

Bicho de luz que voa. Se não perder as asas jamais será cupim. Que força é esta que faz soltar as asas e faz erguer a casa? Matéria frágil que se desmancha no vento forte. Quem avisa ser hora de viver feito verme no meio do capim? Quem emite o sinal que faz voar em círculos enquanto a terra gira - aleluia do sol.

Vermelhodoce

Cereja no pé
Gosto vermelho doce
... Saudade boa

21 de dez. de 2009

Do sol do rio

Havia um rio na minha infância. Ainda há. Corre lento agora. Posso ouvi-lo cantar - segredos que já não mais podemos decifrar. E quando eu já não for - ele ainda será. Até que o sol esfrie - ou arrebente.

19 de dez. de 2009

Medo das águas

Perto de mim - flui generoso o rio. Todos mergulham ou - molham as pontas dos pés. Só os meus sempre secos.

16 de dez. de 2009

Casa 11 Telefone 09

Quando eu nasci

a casa ainda era branca
número 11

o telefone, preto de manivela
número 09

e o céu, azul infinito.